quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Master Keaton - ResenhAnimes




Episódios: 39
Ano: 1998-2000
Estúdio: Madhouse
Gêneros: Aventura, Mistério


Sinopse: Taichi Keaton é um arqueólogo nipo-britânico e veterano do Serviço Aéreo Especial da Guerra das Malvinas. Ele resolve mistérios e investiga fraudes de seguro para a Lloyd's em todo o mundo.
É um homem de muitos talentos: pai, historiador, viajante assíduo, negociador, arqueólogo e ex-instrutor de sobrevivência. Embora seus métodos possam parecer um pouco heterodoxos, ele cumpre bem o seu trabalho, mas não sem antes aprender ou ensinar algo no processo. Ao longo de todas as suas aventuras, alguns o chamam de charlatão. Aqueles que o conhecem bem o chamam de mestre da vida...


Master Keaton é uma adaptação do mangá homônimo de Naoki Urasawa publicado entre os anos 80 e 90. Desse autor, eu já havia acompanhado Monster, que é um dos animes presentes em meu toplist. Cruzando o estilo dessas duas obras, é perceptível que Urasawa opta por levar seriedade e realismo em seus temas, priorizando suspense e psicologia humana.

O anime é episódico, no estilo “aventura do dia”. O protagonista resolve um caso, quase sempre relacionado ao seu trabalho na empresa de seguros. Alguns episódios mostram o ambiente familiar, com a interação entre os outros personagens recorrentes da série. Master Keaton foi lançado com 24 capítulos para a TV e 15 OVA’s, totalizando 39 episódios, ou 3 temporadas corridas.

As histórias são carregadas de elementos culturais dos povos mostrados. Keaton é um viajante e isso possibilita a Urasawa discorrer sobre costumes, credos, formações sociais primitivas, implicações políticas e qualquer elemento passível de geografização. São histórias com um bom grau de erudição envolvido. Não há violência explícita como em Monster. Por esse motivo, Master Keaton mescla aspectos de cunho adulto numa linguagem mais acessível aos jovens.

Sendo um anime episódico, Master Keaton apresenta uma ampla variedade de personagens secundários. Em geral, suas participações são relevadas na medida em que não estão lá somente para comporem o cast. O contexto de suas vidas são bem retratadas pois influenciam de fato no roteiro de cada capítulo. Ou seja, os personagens não são rasos em suas ações, algo comum em animes episódicos. E aqui tenho que comparar com Monster: a caracterização é um ponto forte do trabalho de Urasawa. Nenhum personagem é desperdiçado.

Em sua fase mais light, Tenma, personagem também principal em Monster, lembra demasiadamente Keaton. São homens puros de coração, dispostos a ajudar os mais fracos através de suas habilidades.  Mas Keaton não sofreu a transmutação que Tenma desenvolve em Monster, acabando por simplificar sua trajetória no anime. Sabemos de antemão que Keaton resolverá a questão do episódio; o hype se coloca em “como” ela será resolvida e quais habilidades serão dispendidas. Alheios a isso, estão o pai e a filha de Keaton, com participações casuais que pouco acrescentam na caracterização. Em Master Keaton, os personagens secundários são mais interessantes que os principais.

Quando vi Master Keaton, fiquei tentado a acusá-lo de plagiar a arte de Monster, tamanha é a semelhança com os personagens deste anime. Claro, logo vi que era uma obra do mesmo autor e anterior a Monster. É obvio que o estilo persiste ao longo de seus trabalhos. Contudo, a semelhança dos designs de personagens entre elas me sugeriu uma total preguiça criativa quando da publicação de Monster. Mas como estou falando de Master Keaton, devo levar em conta a cronologia de seus trabalhos e criticar esse aspecto numa vindoura resenha de Monster. Dito isso, a arte de Urasawa é apropriada para a nacionalidade de seus personagens. Como em Monster, Master Keaton apresenta predominância de personagens europeus que não combinariam com o estilo usual japonês. Os traços são moderados, típicos de animações ocidentais, com cores pasteis que hoje parecem embaçadas em modernos televisores de LCD. Os backgrounds são bons em transmitir os ares dos variados ambientes que ocorrem as histórias, da Europa, do Oriente Médio e do Japão. A Madhouse entregou uma animação eficiente para os padrões dos anos 90.

Master Keaton e Monster também parecem ter suas equipes de dublagem iguais. Consegui reconhecer as vozes de Yuriko e Taihei como as mesmas de Reichwein e da doutora vietnamita de Monster. No geral, a dublagem fez um bom trabalho. A abertura é um tema instrumental folclórico, possivelmente de influência escocesa, com percussões tribais e alta densidade de instrumentos de sopro, em especial a gaita de fole. Kuniaki Haishima tentou transmitir em sua composição o lado histórico e arqueológico da obra, juntamente com a meia nacionalidade britânica de Keaton. A série tem dois encerramentos: o primeiro é “Eternal Wind” do grupo Blüe, um pop rock baseado nos solos de guitarra com um clima descontraído; o outro é “A Sigh” de Kneuklid Romance, que tem somente sua abertura em voz e violão reproduzida, sendo que sua parte omitida logo torna-se também um rock animado típico do J-Rock. Todas as canções foram boas escolhas, nas quais criaram um contraste de tons entre abertura e encerramentos, refletindo os temas histórico e atual da série.

Master Keaton é um anime sóbrio que se baseia mais na aventura do que nos seus flertes leves com o gênero mistério. Certamente parecerá um pouco tedioso a olhos ávidos de emoção instantânea e ritmo corrido. A série é indicada àqueles abertos a um passeio relaxado pela erudição fácil e banal dos casos de Keaton, mas desenvolvidas com a qualidade usual de um autor como Urasawa. 

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