Episódios: 39
Ano: 1998-2000
Estúdio: Madhouse
Gêneros: Aventura, Mistério
Sinopse: Taichi Keaton é um arqueólogo nipo-britânico e veterano do Serviço
Aéreo Especial da Guerra das Malvinas. Ele resolve mistérios e investiga
fraudes de seguro para a Lloyd's em todo o mundo.
É um homem de muitos talentos: pai, historiador, viajante assíduo,
negociador, arqueólogo e ex-instrutor de sobrevivência. Embora seus métodos possam
parecer um pouco heterodoxos, ele cumpre bem o seu trabalho, mas não sem antes aprender
ou ensinar algo no processo. Ao longo de todas as suas aventuras, alguns o
chamam de charlatão. Aqueles que o conhecem bem o chamam de mestre da vida...
Master Keaton é uma adaptação do
mangá homônimo de Naoki Urasawa publicado entre os anos 80 e 90. Desse autor,
eu já havia acompanhado Monster, que é um dos animes presentes em meu toplist.
Cruzando o estilo dessas duas obras, é perceptível que Urasawa opta por levar seriedade
e realismo em seus temas, priorizando suspense e psicologia humana.
O anime é episódico, no estilo “aventura
do dia”. O protagonista resolve um caso, quase sempre relacionado ao seu
trabalho na empresa de seguros. Alguns episódios mostram o ambiente familiar,
com a interação entre os outros personagens recorrentes da série. Master Keaton
foi lançado com 24 capítulos para a TV e 15 OVA’s, totalizando 39 episódios, ou
3 temporadas corridas.
As histórias são carregadas de elementos
culturais dos povos mostrados. Keaton é um viajante e isso possibilita a
Urasawa discorrer sobre costumes, credos, formações sociais primitivas,
implicações políticas e qualquer elemento passível de geografização. São histórias
com um bom grau de erudição envolvido. Não há violência explícita como em Monster. Por esse motivo, Master
Keaton mescla aspectos de cunho adulto numa linguagem mais acessível aos
jovens.
Sendo um anime episódico, Master
Keaton apresenta uma ampla variedade de personagens secundários. Em geral, suas
participações são relevadas na medida em que não estão lá somente para comporem
o cast. O contexto de suas vidas são
bem retratadas pois influenciam de fato no roteiro de cada capítulo. Ou seja,
os personagens não são rasos em suas ações, algo comum em animes episódicos. E
aqui tenho que comparar com Monster: a caracterização é um ponto forte do
trabalho de Urasawa. Nenhum personagem é desperdiçado.
Em sua fase mais light, Tenma, personagem também
principal em Monster, lembra demasiadamente Keaton. São homens puros de
coração, dispostos a ajudar os mais fracos através de suas habilidades. Mas Keaton não sofreu a transmutação que Tenma
desenvolve em Monster, acabando por simplificar sua trajetória no anime.
Sabemos de antemão que Keaton resolverá a questão do episódio; o hype se coloca em “como” ela será
resolvida e quais habilidades serão dispendidas. Alheios a isso, estão o pai e
a filha de Keaton, com participações casuais que pouco acrescentam na
caracterização. Em Master Keaton, os personagens secundários são mais
interessantes que os principais.
Quando vi Master Keaton, fiquei
tentado a acusá-lo de plagiar a arte de Monster, tamanha é a semelhança com os
personagens deste anime. Claro, logo vi que era uma obra do mesmo autor e
anterior a Monster. É obvio que o estilo persiste ao longo de seus trabalhos.
Contudo, a semelhança dos designs de
personagens entre elas me sugeriu uma total preguiça criativa quando da
publicação de Monster. Mas como estou falando de Master Keaton, devo levar em conta
a cronologia de seus trabalhos e criticar esse aspecto numa vindoura resenha de
Monster. Dito isso, a arte de Urasawa é apropriada para a nacionalidade de seus
personagens. Como em Monster, Master Keaton apresenta predominância de
personagens europeus que não combinariam com o estilo usual japonês. Os traços
são moderados, típicos de animações ocidentais, com cores pasteis que hoje
parecem embaçadas em modernos televisores de LCD. Os backgrounds são bons em transmitir os ares dos variados ambientes
que ocorrem as histórias, da Europa, do Oriente Médio e do Japão. A Madhouse entregou
uma animação eficiente para os padrões dos anos 90.
Master Keaton e Monster também parecem
ter suas equipes de dublagem iguais. Consegui reconhecer as vozes de Yuriko e
Taihei como as mesmas de Reichwein e da doutora vietnamita de Monster. No
geral, a dublagem fez um bom trabalho. A abertura é um tema instrumental
folclórico, possivelmente de influência escocesa, com percussões tribais e alta
densidade de instrumentos de sopro, em especial a gaita de fole. Kuniaki
Haishima tentou transmitir em sua composição o lado histórico e arqueológico da
obra, juntamente com a meia nacionalidade britânica de Keaton. A série tem dois
encerramentos: o primeiro é “Eternal Wind” do grupo Blüe, um pop rock baseado nos
solos de guitarra com um clima descontraído; o outro é “A Sigh” de Kneuklid
Romance, que tem somente sua abertura em voz e violão reproduzida, sendo que
sua parte omitida logo torna-se também um rock animado típico do J-Rock. Todas
as canções foram boas escolhas, nas quais criaram um contraste de tons entre
abertura e encerramentos, refletindo os temas histórico e atual da série.
Master Keaton é um anime sóbrio que
se baseia mais na aventura do que nos seus flertes leves com o gênero mistério.
Certamente parecerá um pouco tedioso a olhos ávidos de emoção instantânea e
ritmo corrido. A série é indicada àqueles abertos a um passeio relaxado pela
erudição fácil e banal dos casos de Keaton, mas desenvolvidas com a qualidade usual
de um autor como Urasawa.
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