segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Paranoia Agent - ResenhAnimes



Episódios: 13
Ano: 2004
Estúdio: Madhouse
Gêneros: Drama, Mistério, Policial, Psicológico, Suspense


Sinopse: O infame Garoto do Bastão (Lil 'Slugger) está aterrorizando os moradores da cidade de Musashino. Andando por aí em seus patins e abatendo as pessoas com um bastão dourado de beisebol, o agressor parece impossível de ser pego - muito menos de ser compreendido. Sua primeira vítima, a famosa e tímida designer de personagem Tsukiko Sagi, é suspeita de orquestrar os ataques. Acreditada somente por Maromi, seu animal de pelúcia rosa antropomórfico, Tsukiko é apenas uma das muitas vítimas do Garoto do Bastão.

Enquanto ele continua agindo implacavelmente na cidade, os detetives Keiichi Ikari e Mitsuhiro Maniwa começam a investigar sua identidade. No entanto, mais e mais pessoas são vítimas do notório bastão dourado e as notícias do agressor começam a circular pela cidade. Uma paranoia começa a se instalar enquanto rumores arrepiantes se espalham entre adultos e crianças.

Será que os dois detetives serão capazes de desvendar a verdade por trás do Garoto do Bastão? Ou será que a paranoia os atingirá primeiro?



Paranoia Agent é um anime que merece muita atenção para discuti-lo e, sinceramente, não sei se tenho a bagagem intelectual necessária para tal. Uma das séries mais complexas que acompanhei, com mensagens quase subliminares que giram em torno da fuga da realidade que os seres humanos perpetram inconscientemente a si mesmos. Mas isso é uma simplificação forçada. Confesso que precisei entrar em fóruns após alguns episódios a fim de abarcar elementos que me passaram despercebidos devido á sutileza imagética de sua narração.    

A sinopse aparentemente simples não faz jus ao que realmente é mostrado na série. A metáfora da real dimensão de um iceberg funciona em relação à Paranoia Agent: a maior parte de sua mensagem está oculta. São treze episódios com um ritmo hilariante e obscuro, que brinca com o sério e o cômico, igual à sua abertura. Uma abertura que representa fielmente o teor da série: seus personagens rindo, de forma macabra e irônica, em locais destruídos e fatais.

Não discorrerei sobre o roteiro além do que está exposto na sinopse. Ele foi muito bem escrito afim de embaraçar as conexões entre seus personagens.  Muitos reclamaram um certo desvio de narração por volta do terceiro quartel de episódios, acusando-os de serem fillers inúteis. Mas mesmo eles mostram mensagens importantes para o enredo da série. Quem dera se todos os fillers fossem assim. Três fillers de Paranoia Agent são melhores que muitos animes inteiros por aí.

Depois de assistir Paranoia Agent, descobri que é do mesmo autor de Tokyo Godfathers e Perfect Blue. Todos estes três trabalhos de Satoshi Kon lidam com o psicológico diante das questões do mundo moderno. Problemas de natureza social e econômica como miséria urbana, prostituição, homofobia, exposição midiática, depressão, etc., entrelaçados no universo de sentimentos internalizados que passeiam na (in)consciência do ser humano, temas louváveis num ambiente relativamente árido dos animes, que fazem da morte prematura de seu autor uma grande perda artística.

O que posso dizer é que sua mensagem básica é esta: não crie subterfúgios que te afastem da realidade, por mais difícil que ela seja. O sentimento de culpa pode se transformar em um monstro que te devorará completamente, caso você não se esqueça do passado e continue seguindo em frente. Esse monstro pode ser personificado/objetificado naquilo que você constrói ao longo da vida, criando uma ilusão de normalidade enquanto tudo está desabando no interior. A negação da realidade parece ser algo inerentemente humano, pois somos os únicos seres vivos capazes da faculdade da mentira.

Juntamente com Monster, Paranoia Agent é exemplar na construção de personagens. São tão humanos, tão próximos daquilo que muitos de nós escondem uns dos outros e de nós mesmos que chega a ser doloroso como um tapa na cara. Abraçar a intenção de “tocar na ferida” não é para qualquer um. É fácil criar personagens caricaturais, muito bons ou muito maus, ou com rasos problemas juvenis-escolares e românticos. Por outro lado, difícil é aceitar que amor e ódio, verdade e mentira, cobiça e abnegação, desprezo e deferência convivem como polos opostos de uma mesma unidade, e que a sua não aceitação é a verdadeira causadora da ausência de paz da mente humana. Uma caracterização desse tipo será sempre mais real e incisiva. É sempre agradável, ver estampadas as máscaras de forma nua e crua nas ficções.

A personagem-motor de Paranoia Agent é certamente Tsukiko. Toda a neurose se alastra dela. Mas isso é um recurso empregado para que a história se desenvolva em seu entorno, pois tudo que ocorre com as outras personagens são possíveis independentemente de sua existência. Junto a ela está Maromi, uma personificação da culpa passada que ela renegou desde a infância. Chono é outro caráter complexo, que apresenta dupla personalidade, batendo de frente com os “bons costumes” de uma sociedade hipócrita na qual não importam as habilidades objetivas, mas sim uma boa imagem que os outros carregam de si. Hirukawa, Maniwa e Keiichi, todos com histórias particulares que também não são totalmente “puras”, são os que perseguem o enigmático Garoto do Bastão. Ele cumpre uma função ambígua que representa a temática principal de Paranoia Agent, como exposto acima.   

Paranoia Agent me lembrou bastante Tokyo Godfathers em seu estilo de animação. Ambos apresentam uma arte bem realista, sem cabelos coloridos e olhos grandes daquele estilo moe comum dos animes. Há um excesso de tons amarronzados, com predominância de cores foscas. A animação é fluída para sua época, mais perceptível em seus episódios finais através da aceleração dos eventos que ocorrem em tela. Achei os designs das personagens um tanto macabros, perfeitamente passíveis de uso em obras de terror.

Um elemento a se destacar são suas background musics. Paranoia Agent tem BGM’s dignas daquele suspense imediatista que prepara o espectador para um ato fatal. Creio que foi o primeiro anime (ou um dos raros) que me atentou para este elemento sonoro que climatiza o desenrolar dos acontecimentos. Segundo o autor, como o anime passava muito tarde da noite, sua canção de abertura deveria acordar aqueles que estavam sonolentos na frente da TV. Ela é “Yume no Shima Shinen Kouen/Dream Island Obsessional Park”, de Susumu Hirasawa. Um pop de início explosivo carregado de samplers, com refrães gritados e uma letra positiva sobre curtir as coisas simples da vida. Isso é cantado enquanto as cenas de abertura mostram os personagens rindo diante da destruição, do suicídio, da bomba atômica, da morte iminente.

Na minha lista de animes, poucos foram aqueles que ganharam um 10. Ao longo de tantos títulos vistos, a média das minhas notas é 6. Diante da maioria, posso ser considerado rigoroso. Não que minha opinião deva valer acima do gosto pessoal de cada um, mas espero que esse 10 que Paranoia Agent me arrancou possa despertar a curiosidade dos que curtem animes. Esta é uma obra singular do gênero, com a coragem e o talento de um autor que não se absteve de animar as idiossincrasias do comportamento humano. 

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