segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

The Great Passage - ResenhAnimes



Episódios: 11
Ano: 2016
Estúdio: Zexcs
Gêneros: Cotidiano, Drama, Romance


Sinopse: A publicação de um novo dicionário intitulado “A Grande Passagem” progride. Mitsuya Majime, originalmente do departamento de vendas da Editora Genbu Shobo, foi recrutado por Kouhei Araki, um veterano editor do departamento de dicionários que está planejando se aposentar logo. O departamento de dicionários é conhecido internamente como o "inseto que come dinheiro", mas Mitsuya usa sua perseverança e amor às palavras para se tornar um grande editor. Mitsuya, que tem poucas habilidades sociais, encontra-se trabalhando com outro homem chamado Masashi Nishioka, que é capaz de se expressar melhor.



As palavras são vivas. Elas carregam a origem da comunicação humana e os significados dados ao longo de sua história. Estes variam de acordo com o sentido atribuído pelo falante, com a região geográfica, com o momento histórico e com a subjetividade de seus interlocutores. Tentar reunir toda essa diversidade em um único manual parece ser um compromisso hercúleo e para sempre inacabado. The Great Passage (também conhecido como “Fune wo Amu”) é uma ótima surpresa a respeito desse cotidiano intenso, minucioso e rico dos dicionários.

The Great Passage é um dos grandes animes exibidos no NoitaminA, um bloco da Fuji TV no qual já passaram obras como Nodame Cantabile, Honey and Clover, Erased e The Perfect Insider. É quase um josei, com o ritmo próprio do gênero e com aquilo que eu rotulo como “pés-no-chão”. Em The Great Passage, você não verá superpoderes, magias, entidades sobrenaturais, lutas impossíveis. É simplesmente o cotidiano, comum e rotineiro, de pessoas lutando para realizar o sonho do dicionário japonês mais abrangente possível.

O roteiro da série vai mostrando as dificuldades técnicas, os percalços dos personagens, suas escolhas de carreira ao longo dos episódios. Há vários saltos no tempo entre um episódio e outro, tal como é normal um trabalho dessa natureza durar ao longo de alguns anos. Você percebe isso quando vê a foto de um personagem presente no episódio anterior perto de velas acesas em um altar. Outros animes mostrariam uma legenda com o ano em questão, mas aqui a intenção foi a de usar a sutileza e confiar na percepção do espectador.

The Great Passage brinca com a ironia de um personagem introvertido, com dificuldades de expressão e de usar as palavras, se tornar um proficiente editor de dicionário. Conhecer o significado do maior número de palavras possível não é garantia de conseguir usá-las de forma eficiente. O romance do anime mostra muito bem essa assertiva. Porém, navegar pelo mar de palavras, expressões e significados é uma viagem agradável pelo mundo da comunicação humana.

Identifiquei-me muito com Majime, similar a um “outro eu” da minha infância e adolescência. A timidez e a introversão realmente costuma gerar um perfil como o de Majime: uma pessoa retraída, corcunda e de difícil ascensão profissional. Ele só mudou seu cargo pela iniciativa de outra pessoa. Todavia, a partir desse momento, sua vida começa a se mover, com ele no manche. No campo amoroso, apesar de seu estilo nada convencional de flerte, todos os seus louros são por sua própria vontade de romper a barreira da comunicação. Assim, sua evolução é visível ao longo do anime, com o crescente compromisso de fazer o dicionário ser uma referência no ramo.

No outro extremo, está Nishioka com sua desenvoltura e sociabilidade. Nishioka, na primeira parte do anime, completa a equipe com o que falta em Majime, principalmente na promoção e relações públicas do projeto. Na segunda parte, Matsumoto e Araki preenchem essa lacuna até sua publicação. Pelo lado do núcleo familiar, Hayashi, o interesse romântico de Majime, é uma personagem que serve como suporte motivacional com seu caráter compreensivo e amável. Enfim, todos os personagens foram bem arquitetados, sem nenhuma estereotipia exagerada que incida alguma culpa de ter sido um chavão gasto e repetido.

Do estúdio Zexcs, eu já conhecia Flowers of Evil, um anime singular por usar uma técnica incomum hoje como a rotoscopia. Em The Great Passage, a animação é bem padronizada na atualidade. O próprio estilo de um anime sobre o cotidiano não exige muito do estúdio. Sua arte segue um design genérico mas eficaz na transmissão do contexto proposto. Apreciei as entradas para o intervalo e as telas antes dos encerramentos, quando algumas explicações sobre o ramo dos dicionários foram oportunamente adicionadas.

As aberturas mais recentes do bloco NoitaminA seguem visuais e sonoridades bem parecidos em seu estilo: repletos de quadros com fundos coloridos e canções animadas e contagiantes. Foi assim com Erased, Tatami Galaxy, The Perfect Insider, Ping Pong e agora com The Great Passage. A abertura é um dance eletrônico divertido com “Shiokaze” interpretado Taiiku Okazaki. No encerramento, Leola amacia nossos ouvidos com a balada “I & I”, perfeitamente condizente com um slice of life quase sem tensão como The Great Passage. Cabe destacar também o trabalho do dublador de Majime, que realizou muito bem os tiques e inflexões de voz de um personagem introvertido.


The Great Passage foi uma grata surpresa na temporada. Um anime para quem curte josei de ritmo cadenciado mas sem firulas de roteiro, com um tema pés-no-chão e personagens realistas e normais para o formato de anime, produto televisivo famoso pela exacerbação da fantasia. Vale a pena também conferi-lo pelo bom retrato do funcionamento de uma editora.

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