Episódios: 11
Ano: 2016
Estúdio: Zexcs
Gêneros: Cotidiano, Drama, Romance
Sinopse: A publicação de um novo dicionário intitulado “A Grande
Passagem” progride. Mitsuya Majime, originalmente do departamento de vendas da Editora
Genbu Shobo, foi recrutado por Kouhei Araki, um veterano editor do departamento
de dicionários que está planejando se aposentar logo. O departamento de
dicionários é conhecido internamente como o "inseto que come
dinheiro", mas Mitsuya usa sua perseverança e amor às palavras para se
tornar um grande editor. Mitsuya, que tem poucas habilidades sociais,
encontra-se trabalhando com outro homem chamado Masashi Nishioka, que é capaz
de se expressar melhor.
As palavras são vivas. Elas
carregam a origem da comunicação humana e os significados dados ao longo de sua
história. Estes variam de acordo com o sentido atribuído pelo falante, com a
região geográfica, com o momento histórico e com a subjetividade de seus
interlocutores. Tentar reunir toda essa diversidade em um único manual parece
ser um compromisso hercúleo e para sempre inacabado. The Great Passage (também
conhecido como “Fune wo Amu”) é uma ótima surpresa a respeito desse cotidiano
intenso, minucioso e rico dos dicionários.
The Great Passage é um dos grandes
animes exibidos no NoitaminA, um bloco da Fuji TV no qual já passaram obras
como Nodame Cantabile, Honey and Clover, Erased e The Perfect Insider. É quase
um josei, com o ritmo próprio do gênero e com aquilo que eu rotulo como
“pés-no-chão”. Em The Great Passage, você não verá superpoderes, magias,
entidades sobrenaturais, lutas impossíveis. É simplesmente o cotidiano, comum e
rotineiro, de pessoas lutando para realizar o sonho do dicionário japonês mais
abrangente possível.
O roteiro da série vai mostrando
as dificuldades técnicas, os percalços dos personagens, suas escolhas de
carreira ao longo dos episódios. Há vários saltos no tempo entre um episódio e
outro, tal como é normal um trabalho dessa natureza durar ao longo de alguns
anos. Você percebe isso quando vê a foto de um personagem presente no episódio
anterior perto de velas acesas em um altar. Outros animes mostrariam uma
legenda com o ano em questão, mas aqui a intenção foi a de usar a sutileza e
confiar na percepção do espectador.
The Great Passage brinca com a
ironia de um personagem introvertido, com dificuldades de expressão e de usar
as palavras, se tornar um proficiente editor de dicionário. Conhecer o
significado do maior número de palavras possível não é garantia de conseguir
usá-las de forma eficiente. O romance do anime mostra muito bem essa assertiva.
Porém, navegar pelo mar de palavras, expressões e significados é uma viagem
agradável pelo mundo da comunicação humana.
Identifiquei-me muito com Majime,
similar a um “outro eu” da minha infância e adolescência. A timidez e a
introversão realmente costuma gerar um perfil como o de Majime: uma pessoa
retraída, corcunda e de difícil ascensão profissional. Ele só mudou seu cargo
pela iniciativa de outra pessoa. Todavia, a partir desse momento, sua vida
começa a se mover, com ele no manche. No campo amoroso, apesar de seu estilo
nada convencional de flerte, todos os seus louros são por sua própria vontade
de romper a barreira da comunicação. Assim, sua evolução é visível ao longo do
anime, com o crescente compromisso de fazer o dicionário ser uma referência no
ramo.
No outro extremo, está Nishioka
com sua desenvoltura e sociabilidade. Nishioka, na primeira parte do anime,
completa a equipe com o que falta em Majime, principalmente na promoção e
relações públicas do projeto. Na segunda parte, Matsumoto e Araki preenchem
essa lacuna até sua publicação. Pelo lado do núcleo familiar, Hayashi, o
interesse romântico de Majime, é uma personagem que serve como suporte
motivacional com seu caráter compreensivo e amável. Enfim, todos os personagens
foram bem arquitetados, sem nenhuma estereotipia exagerada que incida alguma
culpa de ter sido um chavão gasto e repetido.
Do estúdio Zexcs, eu já conhecia
Flowers of Evil, um anime singular por usar uma técnica incomum hoje como a
rotoscopia. Em The Great Passage, a animação é bem padronizada na atualidade. O
próprio estilo de um anime sobre o cotidiano não exige muito do estúdio. Sua
arte segue um design genérico mas eficaz
na transmissão do contexto proposto. Apreciei as entradas para o intervalo e as
telas antes dos encerramentos, quando algumas explicações sobre o ramo dos
dicionários foram oportunamente adicionadas.
As aberturas mais recentes do
bloco NoitaminA seguem visuais e sonoridades bem parecidos em seu estilo:
repletos de quadros com fundos coloridos e canções animadas e contagiantes. Foi assim com
Erased, Tatami Galaxy, The Perfect Insider, Ping Pong e agora com The Great
Passage. A abertura é um dance eletrônico
divertido com “Shiokaze” interpretado Taiiku Okazaki. No encerramento, Leola
amacia nossos ouvidos com a balada “I & I”, perfeitamente condizente com um
slice of life quase sem tensão como
The Great Passage. Cabe destacar também o trabalho do dublador de Majime, que realizou
muito bem os tiques e inflexões de voz de um personagem introvertido.
The Great Passage foi uma grata
surpresa na temporada. Um anime para quem curte josei de ritmo cadenciado mas
sem firulas de roteiro, com um tema pés-no-chão e personagens realistas e normais
para o formato de anime, produto televisivo famoso pela exacerbação da
fantasia. Vale a pena também conferi-lo pelo bom retrato do funcionamento de
uma editora.
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