segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Hyouka - ResenhAnimes




Episódios: 23
Ano: 2012
Estúdio: Kyoto Animation
Gêneros: Mistério, Escolar, Cotidiano


Sinopse: Houtarou Oreki, um estudante do ensino médio obcecado por conservar energia, termina com sua rotina quando se inscreve no Clube de Literatura Clássica, a pedido de sua irmã - especialmente quando percebe a profundidade de sua história. Com má vontade, Oreki é arrastado para uma investigação sobre o mistério de 45 anos que rodeia a sala do clube.

Acompanhado por seus companheiros de clube, o “banco de dados” Satoshi Fukube, a séria mas amável Mayaka Ibara, e a sempre curiosa Eru Chitanda, Oreki deve cumprir os prazos e a falta de informações com desenvoltura e talento, a fim de não só encontrar a verdade enterrada sob a poeira de fatos ocorridos anos antes deles, mas também de outros pequenos casos paralelos.

Baseado na premiada novela Koten-bu, dirigida por Yasuhiro Takemoto de Suzumiya Haruhi no Shoushitsu, Hyouka mostra que a vida cotidiana pode estar cheia de pequenos mistérios, seja em histórias familiares, num filme estudantil, ou mesmo nas flores murchas que compõem um conto de fantasmas.


Séries que têm o mistério investigativo como tema principal geralmente desenvolvem enredos mirabolantes, com reviravoltas quase impossíveis e vilões movidos a insanidades incomuns. É uma característica do gênero, que busca, como toda ficção, oferecer uma fuga da realidade para seus consumidores ávidos de aventuras e esforço mental na montagem dos quebra-cabeças do mistério. Contudo, esquecemos que a mesma e velha rotina na qual vivemos o dia-a-dia pode ser repleta de segredos e descobertas que alimentariam uma mente racional bem treinada. Hyouka exemplifica isso nos problemas aparentemente simples que podem se tornar quase insolúveis, se não forem olhados pelo escopo correto.

O nome do anime trata-se do grande mistério que ronda a série, que é resolvido antes de sua metade. Há várias histórias que vêm antes e depois dela, em especial o arco do festival cultural da escola, que para mim deveria ter sido o final da série. Hyouka acompanha os seus quatro personagens principais se envolvendo como autênticos detetives nos casos, com uma subtrama de caráter amoroso que toma conta dos episódios finais. Há mistérios tanto de um episódio como de quatro.

Hyouka possui uma forte carga de ambiente escolar. Quase todos os casos se relacionam em alguma medida com a vivência na escola. Por esse motivo, podem ser vistos como o “fantástico dentro do banal”. Mas o fantástico em Hyouka é a capacidade de um dos personagens em criar inferências a partir de pistas que muitos achariam inúteis, ou mesmo não perceberiam que são pistas. Como Edgar Allan Poe escreveu com propriedade em “Os Crimes da Rua Morgue”, “o poder analítico não deveria ser confundido com uma simples habilidade (...), pois o analista é engenhoso, mas o engenhoso, não raro, é incapaz de análise”. Assim, o mais interessante em Hyouka é o caminho mental percorrido para a resolução dos mistérios. Fora isso, seu enredo é comum à maioria dos animes escolares.

Afirmei acima que o anime deveria ter se encerrado com o fim do arco do festival cultural, no episódio 17. Seria um bom momento para o término, já que sua maior parte girou em torno da antologia. Os episódios posteriores ao festival possuem um anticlímax, como se fossem apêndices da trama principal. Salvo uma atenção maior com a cronologia da light novel original, estariam melhor inseridos se talvez fossem remanejados para o início do anime. Em especial, os dois últimos episódios deixaram um gosto amargo que discrepa com o tom mais alegre do resto da série. 

Com a intenção de se ter um grupo investigativo, a produção caracterizou seus personagens de maneira bem distinta e funcional. Da mesma forma que um Dr Watson completa Sherlock Holmes e Arthur Hastings a Hercule Poirot, Oreki não seria ninguém sem Chitanda, Fukube e Ibara. Oreki é um gênio latente que deixa a preguiça dominar suas faculdades cognitivas. Para contornar essa situação, existe Chitanda, uma garota com voz de anjo (e nome também) super-ultra-hiper-mega curiosa que o empurra para todas as menores dúvidas possíveis. E também para mudanças drásticas na sua rotina, que deverá influir bastante em sua vida futura. Há uma evolução clara em Oreki, que passa a cada vez mais sair de sua monotonia habitual. Por outro lado, Chitanda é uma das personagens mais fofas e puras que eu já vi em animes. Ela apreende um lado oculto em Oreki que a faz admirá-lo crescentemente com o tempo. 

Do outro lado da mesa, há Fukube e Ibara. Fukube é um garoto com ótima memória que sabe um pouco de tudo. Inicialmente, aparenta não carregar sentimentos ou aspirações relacionadas a uma improvável preponderância nas resoluções dos casos. Como ele próprio afirma, “um banco de dados não é capaz de criar teorias”. Mas com o desenrolar da história, é claramente o personagem mais complexo dos quatro, com uma atitude autoimposta relacionada ao seu passado e que determinará seu relacionamento com Ibara. Esta é o papel que destoa entre eles. Ibara não apresenta um comportamento peculiar além de sua fraca rabugice com Oreki, que gera algumas piadas viáveis para o anime.

Hyouka tem uma animação realizada com esmero. A Kyoto Animation fez um trabalho detalhista nas expressões faciais, nos gestos particulares de cada personagem e até nos planos de fundo, com tonalidades vívidas e agradáveis aos olhos. A iluminação utilizada é uma das melhores que já assisti em animes. O estúdio recorre a quadros que diferem do estilo normal do anime para visualizar os argumentos expositivos com mais eficiência. Eu diria que o resultado final é digno da qualidade exigida em salas de cinema.

Em relação à parte sonora, é raro eu prestar mais atenção ao trabalho dos dubladores do que às trilhas sonoras. As quatro canções de Hyouka são comuns e não me impressionaram de alguma forma. As aberturas de ChouCho com “Yasashisano Riyuu” e “Mikansei Stride” de Saori Kodama são poppy’s com vocais femininos que nada acrescentam ao também comum enredo do anime. Da mesma forma são os encerramentos, “Madoromi no Yakusoku” e “Kimi ni Matsuwaru Mystery”, ambos de Satou Satomi & Kayano, que me deixaram com gosto de algodão doce na boca. Por outro lado, a dublagem é eficaz na caracterização, principalmente através das personagens femininas. A técnica que a dubladora da Chitanda emprega é magistral, pois não é possível que alguém nesse mundo tenha uma voz natural mais fina e angelical. Já a dubladora de Ibara chama atenção pela entonação e tiques nervosos da personagem. 

Hyouka é ótimo anime de mistério escolar, que combina aspectos técnicos de excelência com um enredo que, sendo trivial na ambientação, é convincente em sua execução. Não espere assassinatos, espionagem internacional ou assuntos habituais ao gênero mistério policial. Aqui é tudo relacionado à rotina juvenil, inofensiva e aventureira. Bem superior a trabalhos próximos como Gosick e Heaven's Memo Pad, Hyouka é um anime que merecia mais temporadas pelas boas histórias de “detetive do comum” que entregou, além, é claro, das nuances lógico-argumentativas de Oreki, que são a cereja do bolo.

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