sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Nodame Cantabile - ResenhAnimes



Episódios: 50
Ano: 2007-2010
Estúdio: J.C. Staff
Gêneros: Musical, Cotidiano, Comédia, Drama, Romance, Josei


Sinopse: Shinichi Chiaki é um músico de primeira classe cujo sonho é tocar entre as elites na Europa. Vindo de uma família distinta, ele é um infame perfeccionista - não só é altamente crítico de si mesmo, mas de outros também. A única coisa que impede Shinichi de partir para a Europa é o medo de voar. Como resultado, ele está atolado no Japão.
Durante seu quarto ano na melhor universidade de música, Shinichi conhece Megumi Noda, ou como ela se refere a si mesma, Nodame. Ela parece ser uma menina desleixada, sem direção na vida. No entanto, quando Shinichi escuta Nodame tocar piano pela primeira vez, ele se admira com seu estilo de música. Porém, Shinichi fica assustado ao descobrir que Nodame é sua vizinha, e pior, ela acaba se apaixonando perdidamente por ele.



Infelizmente a música clássica ultimamente anda circunscrita a um público cada vez mais seleto e elitista, principalmente em países com sérios problemas econômicos e distributivos. Sua história secular, que permeia obras descomunais de grandes compositores, é desconhecida da maioria das pessoas, apesar de ouvirem-na constantemente em ambientações cinematográficas. Meu primeiro “contato consciente” com a música clássica veio com Nodame Cantabile, um ótimo e leve josei de comédia.

A série nos apresenta um grupo de amigos que evolui ao longo dos anos de universidade no campo musical. Eles se interagem com outros jovens músicos que buscam os mesmos objetivos do restrito sucesso musical. Seus 50 episódios estão distribuídos em 3 temporadas com alguns OVA’s no meio delas. O “ritmo” (perdão pelo trocadilho) é similar ao comum dos joseis de comédia. Só que em Nodame Cantabile a comédia cede espaço à música em vários momentos.

Ao contrário de alguns animes que usam determinados elementos como ambientação, ou até mesmo como desculpa para abordar outros assuntos (vide o slice of life “Piano”, que de piano tem pouco), aqui a música clássica é privilegiada. Nós, pobres ignorantes, travamos contato com várias obras renomadas que tomam vários minutos de exposição no anime, não raro consumindo metade de um episódio só em sua execução.

Como anime de drama, Nodame Cantabile é eficiente na evolução de seus personagens. Seus perfis, salvo poucas exceções, são bem díspares entre primeiro e último episódio da série. E sua construção ocorre de forma quase imperceptível, ao longo de piadas, situações cômicas e poucos momentos realmente dramáticos. Diria que é na última temporada, denominada “Finalle”, que estão os momentos mais sérios de Nodame Cantabile.

Chiaki está entre os meus dez personagens favoritos. Identifico-me bastante com seu caráter autocrítico e objetivo em relação àquilo que almeja em sua vida. Seu trauma é a única pedra no sapato, que Nodame ajudará a superar em seu devido tempo. Ela é a representação daquele estereótipo que é original demais para seguir regras. Além disso, é a principal válvula de escape para a comédia do show. A química entre eles se desenvolve de forma natural ao longo da história, paralelamente à própria evolução dos personagens. Chiaki e Nodame do começo da série não são os mesmos do final, conferindo verossimilhança à obra.

Da mesma forma são os coadjuvantes de Nodame Cantabile. Cada um deles apresenta seu perfil bem construído ao redor de suas aspirações, que interagem no enfrentamento dos obstáculos a serem vencidos na carreira. Quando, por exemplo, Mine resolve se dedicar exclusivamente à música clássica e passa a madrugada ensaiando após um fracasso, ele o faz por influência involuntária de Chiaki e seu empenho. Ou mesmo Kouzou, que depois de se enganar subestimando Chiaki, adota outro tom de ensino com Nodame. A coesão na caracterização eleva a capacidade de aproximação do público com o personagem.

A arte de Tomoko Ninomiya privilegia formas circulares nos aspectos faciais, diferentemente daquelas mais angulares predominantes nos mangás japoneses. Foi uma escolha que casou muito bem com sua temática mais suave e cotidiana. A intenção não é gerar tensão, mas sim aproximação e plausibilidade com a realidade. O J.C. Staff, estúdio já veterano com mais de 30 anos de fundação, entrega uma animação funcional para um slice of life, com tons esmaecidos e, na minha opinião, com brilho exagerado que transmitiu uma leve sensação de velhice à tela. Vale destacar o esmero na animação das notas, mostrando os dedos executando corretamente sua sequência nos instrumentos.

Obviamente, a probabilidade de um anime sobre música, ainda mais clássica, ter seu lado sonoro em altíssimo nível para os padrões do ramo é bem alta. Como já foi dito, a execução dos grandes clássicos, seja solo ou em sinfonia, trazem um sentimento de grandiosidade raramente visto em animes. O diretor de som Jin Aketagawa realizou um trabalho eficiente na montagem das sequências, inclusive nos erros dos personagens. A impetuosidade de Nodame, a desafinação de Kuroki, o desarranjo de Mine, são claros para quem entende de música. As participações dos dubladores também são de alto nível e versatilidade. A facilidade com que Chiaki sai da calmaria para o esporro é mérito inconteste do dublador.

Nodame Cantabile está certamente entre os cinco melhores joseis produzidos até hoje. Usar a música clássica como molde do desenvolvimento da história foi um acerto pelo seu ineditismo à época. Não somente por isso: a história cativante de um grupo de jovens musicistas em busca de sua realização à sombra de suas relações pessoais, românticas e familiares, executada com a mesma excelência de sua trilha sonora, é uma ótima pedida para os desejosos de comédias românticas de alta qualidade. 

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