Episódios: 50
Ano: 2007-2010
Estúdio: J.C. Staff
Gêneros: Musical, Cotidiano,
Comédia, Drama, Romance, Josei
Sinopse: Shinichi Chiaki é um músico de primeira classe cujo sonho é tocar
entre as elites na Europa. Vindo de uma família distinta, ele é um infame
perfeccionista - não só é altamente crítico de si mesmo, mas de outros também.
A única coisa que impede Shinichi de partir para a Europa é o medo de voar.
Como resultado, ele está atolado no Japão.
Durante seu quarto ano na melhor universidade de música, Shinichi conhece
Megumi Noda, ou como ela se refere a si mesma, Nodame. Ela parece ser uma
menina desleixada, sem direção na vida. No entanto, quando Shinichi escuta
Nodame tocar piano pela primeira vez, ele se admira com seu estilo de música.
Porém, Shinichi fica assustado ao descobrir que Nodame é sua vizinha, e pior,
ela acaba se apaixonando perdidamente por ele.
Infelizmente a música clássica
ultimamente anda circunscrita a um público cada vez mais seleto e elitista,
principalmente em países com sérios problemas econômicos e distributivos. Sua
história secular, que permeia obras descomunais de grandes compositores, é
desconhecida da maioria das pessoas, apesar de ouvirem-na constantemente em
ambientações cinematográficas. Meu primeiro “contato consciente” com a música
clássica veio com Nodame Cantabile, um ótimo e leve josei de comédia.
A série nos apresenta um grupo de amigos que evolui ao longo dos anos de universidade no campo musical. Eles
se interagem com outros jovens músicos que buscam os mesmos objetivos do
restrito sucesso musical. Seus 50 episódios estão distribuídos em 3 temporadas
com alguns OVA’s no meio delas. O “ritmo” (perdão pelo trocadilho) é similar ao
comum dos joseis de comédia. Só que em Nodame Cantabile a comédia cede espaço à
música em vários momentos.
Ao contrário de alguns animes que
usam determinados elementos como ambientação, ou até mesmo como desculpa para
abordar outros assuntos (vide o slice of
life “Piano”, que de piano tem pouco), aqui a música clássica é
privilegiada. Nós, pobres ignorantes, travamos contato com várias obras
renomadas que tomam vários minutos de exposição no anime, não raro consumindo
metade de um episódio só em sua execução.
Como anime de drama, Nodame
Cantabile é eficiente na evolução de seus personagens. Seus perfis, salvo
poucas exceções, são bem díspares entre primeiro e último episódio da série. E
sua construção ocorre de forma quase imperceptível, ao longo de piadas,
situações cômicas e poucos momentos realmente dramáticos. Diria que é na última
temporada, denominada “Finalle”, que
estão os momentos mais sérios de Nodame Cantabile.
Chiaki está entre os meus dez
personagens favoritos. Identifico-me bastante com seu caráter autocrítico e
objetivo em relação àquilo que almeja em sua vida. Seu trauma é a única pedra
no sapato, que Nodame ajudará a superar em seu devido tempo. Ela é a
representação daquele estereótipo que é original demais para seguir regras.
Além disso, é a principal válvula de escape para a comédia do show. A química entre eles se desenvolve de
forma natural ao longo da história, paralelamente à própria evolução dos
personagens. Chiaki e Nodame do começo da série não são os mesmos do final,
conferindo verossimilhança à obra.
Da mesma forma são os
coadjuvantes de Nodame Cantabile. Cada um deles apresenta seu perfil bem
construído ao redor de suas aspirações, que interagem no enfrentamento dos obstáculos
a serem vencidos na carreira. Quando, por exemplo, Mine resolve se dedicar
exclusivamente à música clássica e passa a madrugada ensaiando após um
fracasso, ele o faz por influência involuntária de Chiaki e seu empenho. Ou
mesmo Kouzou, que depois de se enganar subestimando Chiaki, adota outro tom de
ensino com Nodame. A coesão na caracterização eleva a capacidade de aproximação
do público com o personagem.
A arte de Tomoko Ninomiya
privilegia formas circulares nos aspectos faciais, diferentemente daquelas mais
angulares predominantes nos mangás japoneses. Foi uma escolha que casou muito
bem com sua temática mais suave e cotidiana. A intenção não é gerar tensão, mas
sim aproximação e plausibilidade com a realidade. O J.C. Staff, estúdio já
veterano com mais de 30 anos de fundação, entrega uma animação funcional para
um slice of life, com tons esmaecidos
e, na minha opinião, com brilho exagerado que transmitiu uma leve sensação de
velhice à tela. Vale destacar o esmero na animação das notas, mostrando os
dedos executando corretamente sua sequência nos instrumentos.
Obviamente, a probabilidade de um
anime sobre música, ainda mais clássica, ter seu lado sonoro em altíssimo nível
para os padrões do ramo é bem alta. Como já foi dito, a execução dos grandes
clássicos, seja solo ou em sinfonia, trazem um sentimento de grandiosidade
raramente visto em animes. O diretor de som Jin Aketagawa realizou um trabalho eficiente
na montagem das sequências, inclusive nos erros dos personagens. A
impetuosidade de Nodame, a desafinação de Kuroki, o desarranjo de Mine, são
claros para quem entende de música. As participações dos dubladores também são
de alto nível e versatilidade. A facilidade com que Chiaki sai da calmaria para
o esporro é mérito inconteste do dublador.
Nodame Cantabile está certamente entre
os cinco melhores joseis produzidos até hoje. Usar a música clássica como molde
do desenvolvimento da história foi um acerto pelo seu ineditismo à época. Não
somente por isso: a história cativante de um grupo de jovens musicistas em
busca de sua realização à sombra de suas relações pessoais, românticas e
familiares, executada com a mesma excelência de sua trilha sonora, é uma ótima
pedida para os desejosos de comédias românticas de alta qualidade.
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