sábado, 4 de fevereiro de 2017

Black Lagoon - ResenhAnimes



Episódios: 29
Ano: 2006, 2010-2011
Estúdio: Madhouse
Gêneros: Ação, Seinen


Sinopse: Dentro da Tailândia está Roanapur, uma cidade depravada, controlada pelo crime, onde nem mesmo as autoridades ou igrejas ficam intocadas pelas garras da corrupção. Um paraíso para prisioneiros e degenerados, a cidade é conhecida por ser o centro de atividades e operações ilegais, muitas vezes alimentadas por sindicatos locais do crime.
Entra Rokurou Okajima, um japonês de classe média do ramo de negócios que tem vivido uma vida monótona. Justo quando ele finalmente obtém sua chance de mudar sua rotina com uma entrega para o Sudeste Asiático, sua viagem de negócios rapidamente se torna um pesadelo: Rokurou é capturado por um grupo mercenário operando em Roanapur, chamado Black Lagoon. O grupo planeja usá-lo como moeda de troca nas negociações que, no fim das contas, falharam. Agora abandonado e traído por seu antigo empregador, Rokurou decide juntar-se à Black Lagoon. Para sobreviver, ele deve rapidamente se adaptar ao seu novo ambiente e se preparar para o derramamento de sangue e tribulação.
Um poderoso thriller intenso e sem pausa, Black Lagoon mergulha nas profundezas da virtude e moralidade humana. Você acompanha Rokurou lutando para manter seus valores e filosofias intactos ao mesmo tempo que se transforma lentamente de empresário para um mercenário implacável.


O crime organizado existe no mundo todo, em diferentes graus. Algumas regiões possuem a fama de o possuírem com mais proeminência, vide Colômbia, Itália e o sudeste asiático. A maior parte da população não conhece como funciona o mundo do crime visto de dentro. Suas linhas de força são bastante tênues e qualquer passo falso pode resultar em uma grande perda de vidas, seja diante da ‘justiça’ ou de facções rivais. Black Lagoon mostra, como nenhum outro anime, esse intenso submundo que vive à parte da lei.

Black Lagoon é estruturado em torno de pequenos arcos de episódios ao longo de duas temporadas, além de uma série OVA lançada anos depois da série da TV. Como dito na sinopse, acompanhamos Rokurou Okajima adentrando-se nesse mundo, em meio a assassinos, ladrões, estelionatários e outros bandidos de toda estirpe possível. Ele se incorpora à Black Lagoon, uma ‘empresa’ de entregas via marítima. Dentro de Roanapur, a Black Lagoon é, se comparada aos sindicatos do crime, uma das mais ‘tranquilas’. Mas isso não livra Rokurou da inescapável mudança de atitude diante do que ele considerava a vida normal.

O foco principal da série é a ação, tendo como base questões de natureza filosófica. Os arcos mais marcantes foram sem dúvida aqueles dos irmãos gêmeos e do grupo Washimine. No arco do irmãos gêmeos, é mostrado como a ausência de amor e cuidados na infância pode corromper um ser humano em seu período de formação. Uma triste realidade em muitos recantos do mundo, onde crianças são violentadas e recrutadas para o crime. Já no arco Washimine, acompanhamos uma jovem que inconscientemente cai na famosa falácia do espantalho, interpretando equivocadamente teorias de Sartre e Heidegger como muleta para a adoção do fatalismo em sua vida. “O homem é, antes de tudo, algo que se empurra em direção ao um futuro, e está consciente disso” diz Sartre em uma de suas citações mais conhecidas, mas que não exime de responsabilidade alguém que coloca a honra acima da razão.

Os quatro personagens principais são funcionais como elementos distintos de caráter. Uma dupla, Rokurou e Benny, estão na zona de transição, não totalmente entregues ao lado escuro da humanidade. Eles funcionam como antagonistas morais às ações da outra dupla, Dutch e Revy. Estes já imergiram totalmente no crime, principalmente Dutch, que parece ser um personagem mais resolvido em relação à sua ética. Revy, no fundo, ainda aspira e se ressente por não ter vivido de forma normal.

Os personagens secundários que, em sua maioria são os “vilões” (se é que podemos chamar alguém aqui de herói), não são maus porque são assim e ponto final. Uma Balalaika que tem um passado que tirou seu sonho nos esportes e a levou para a dura realidade da guerra; um Mr Chang, egresso das forças da lei que forma um perigoso cartel; uma Eda, que esconde seu verdadeiro patrão; ou mesmo uma Roberta, que é a autêntica e “divertida” sissy maid dos infernos. Enfim, os personagens são multifacetados e agem de acordo com suas próprias personalidades que, afinal, foram bem desenvolvidas em Black Lagoon.

A animação é muito boa e deve ser assim para um anime de ação. Na maior parte do tempo, vemos tiroteios, estilhaços, piruetas, perseguições de carro e a barco, movimentações que exigem esmero na sequência dos quadros. O estúdio Madhouse, como sempre, fez um ótimo trabalho. O estilo da arte veste com perfeição aquele sarcasmo violento transpirado por seus personagens, seja nos sorrisos segundos antes das balas viajarem pelo ar, seja nos diálogos ásperos e reflexivos dos momentos mais dramáticos.

Black Lagoon é um ótimo exemplar no quesito de recursos sonoros. O som das Berettas de Revy é inconfundível ao longo da série, nos tiros e nas cápsulas caindo no chão. Tudo é muito rápido e bem concatenado, dando uma impressão eficiente de troca de tiros, batidas, explosões e facas tilintando uma contra a outra. Sua equipe de dublagem entregou vozes curiosas como, por exemplo, a da empregada Roberta, pré e pós-transformação da personagem nos OVAs. Na abertura, Mell empresta um dance caótico em inglês com “Red Fraction”, e nos encerramentos está uma canção do meu top, “Don’t Look Behind” de Edison. Esse instrumental traz um sentimento melancólico e triste que lembra aos olhos pouco atentos à sua seriedade temática e obscura.

Sendo uma grande referência no gênero de ação nos animes, Black Lagoon foi uma série que, pela sua qualidade, me agradaria se houvesse mais temporadas. Porém, pensando melhor, uma boa série deve ser efêmera e precisa na sua mensagem, dispensando capítulos desnecessários. Como um casamento entre o submundo das ações humanas e a consciência pesada dos indivíduos nas suas escolhas sem volta, Black Lagoon é um excelente seinen para os amantes de fuzilaria desenfreada com toques filosóficos.

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