Episódios: 29
Ano: 2006, 2010-2011
Estúdio: Madhouse
Gêneros: Ação, Seinen
Sinopse: Dentro da Tailândia está Roanapur, uma cidade depravada,
controlada pelo crime, onde nem mesmo as autoridades ou igrejas ficam intocadas
pelas garras da corrupção. Um paraíso para prisioneiros e degenerados, a cidade
é conhecida por ser o centro de atividades e operações ilegais, muitas vezes
alimentadas por sindicatos locais do crime.
Entra Rokurou Okajima, um japonês de classe média do ramo de negócios
que tem vivido uma vida monótona. Justo quando ele finalmente obtém sua chance de
mudar sua rotina com uma entrega para o Sudeste Asiático, sua viagem de
negócios rapidamente se torna um pesadelo: Rokurou é capturado por um grupo mercenário
operando em Roanapur, chamado Black Lagoon. O grupo planeja usá-lo como moeda
de troca nas negociações que, no fim das contas, falharam. Agora abandonado e
traído por seu antigo empregador, Rokurou decide juntar-se à Black Lagoon. Para
sobreviver, ele deve rapidamente se adaptar ao seu novo ambiente e se preparar
para o derramamento de sangue e tribulação.
Um poderoso thriller intenso e sem pausa, Black Lagoon mergulha nas
profundezas da virtude e moralidade humana. Você acompanha Rokurou lutando para
manter seus valores e filosofias intactos ao mesmo tempo que se transforma
lentamente de empresário para um mercenário implacável.
O crime organizado existe no
mundo todo, em diferentes graus. Algumas regiões possuem a fama de o possuírem
com mais proeminência, vide Colômbia, Itália e o sudeste asiático. A maior
parte da população não conhece como funciona o mundo do crime visto de dentro.
Suas linhas de força são bastante tênues e qualquer passo falso pode resultar
em uma grande perda de vidas, seja diante da ‘justiça’ ou de facções rivais.
Black Lagoon mostra, como nenhum outro anime, esse intenso submundo que vive à
parte da lei.
Black Lagoon é estruturado em
torno de pequenos arcos de episódios ao longo de duas temporadas, além de uma
série OVA lançada anos depois da série da TV. Como dito na sinopse,
acompanhamos Rokurou Okajima adentrando-se nesse mundo, em meio a assassinos,
ladrões, estelionatários e outros bandidos de toda estirpe possível. Ele se
incorpora à Black Lagoon, uma ‘empresa’ de entregas via marítima. Dentro de
Roanapur, a Black Lagoon é, se comparada aos sindicatos do crime, uma das mais
‘tranquilas’. Mas isso não livra Rokurou da inescapável mudança de atitude
diante do que ele considerava a vida normal.
O foco principal da série é a
ação, tendo como base questões de natureza filosófica. Os arcos mais marcantes
foram sem dúvida aqueles dos irmãos gêmeos e do grupo Washimine. No arco do
irmãos gêmeos, é mostrado como a ausência de amor e cuidados na infância pode
corromper um ser humano em seu período de formação. Uma triste realidade em
muitos recantos do mundo, onde crianças são violentadas e recrutadas para o
crime. Já no arco Washimine, acompanhamos uma jovem que inconscientemente cai
na famosa falácia do espantalho, interpretando equivocadamente teorias de Sartre e
Heidegger como muleta para a adoção do fatalismo em sua vida. “O homem é, antes
de tudo, algo que se empurra em direção ao um futuro, e está consciente disso”
diz Sartre em uma de suas citações mais conhecidas, mas que não exime de
responsabilidade alguém que coloca a honra acima da razão.
Os quatro personagens principais
são funcionais como elementos distintos de caráter. Uma dupla, Rokurou e Benny, estão na zona de transição, não totalmente entregues ao lado escuro da humanidade.
Eles funcionam como antagonistas morais às ações da outra dupla, Dutch e Revy. Estes
já imergiram totalmente no crime, principalmente Dutch, que parece ser um
personagem mais resolvido em relação à sua ética. Revy, no fundo, ainda aspira
e se ressente por não ter vivido de forma normal.
Os personagens secundários que,
em sua maioria são os “vilões” (se é que podemos chamar alguém aqui de herói),
não são maus porque são assim e ponto final. Uma Balalaika que tem um passado
que tirou seu sonho nos esportes e a levou para a dura realidade da guerra; um
Mr Chang, egresso das forças da lei que forma um perigoso cartel; uma Eda, que
esconde seu verdadeiro patrão; ou mesmo uma Roberta, que é a autêntica e
“divertida” sissy maid dos infernos. Enfim,
os personagens são multifacetados e agem de acordo com suas próprias
personalidades que, afinal, foram bem desenvolvidas em Black Lagoon.
A animação é muito boa e deve ser
assim para um anime de ação. Na maior parte do tempo, vemos tiroteios, estilhaços,
piruetas, perseguições de carro e a barco, movimentações que exigem esmero na
sequência dos quadros. O estúdio Madhouse, como sempre, fez um ótimo trabalho. O
estilo da arte veste com perfeição aquele sarcasmo violento transpirado por seus
personagens, seja nos sorrisos segundos antes das balas viajarem pelo ar, seja
nos diálogos ásperos e reflexivos dos momentos mais dramáticos.
Black Lagoon é um ótimo exemplar
no quesito de recursos sonoros. O som das Berettas de Revy é inconfundível ao
longo da série, nos tiros e nas cápsulas caindo no chão. Tudo é muito rápido e
bem concatenado, dando uma impressão eficiente de troca de tiros, batidas, explosões
e facas tilintando uma contra a outra. Sua equipe de dublagem entregou vozes
curiosas como, por exemplo, a da empregada Roberta, pré e pós-transformação da
personagem nos OVAs. Na abertura, Mell empresta um dance caótico em inglês com “Red
Fraction”, e nos encerramentos está uma canção do meu top, “Don’t Look Behind”
de Edison. Esse instrumental traz um sentimento melancólico e triste que lembra
aos olhos pouco atentos à sua seriedade temática e obscura.
Sendo uma grande referência no gênero
de ação nos animes, Black Lagoon foi uma série que, pela sua qualidade, me agradaria se houvesse mais temporadas. Porém, pensando melhor, uma boa série deve
ser efêmera e precisa na sua mensagem, dispensando capítulos desnecessários. Como
um casamento entre o submundo das ações humanas e a consciência pesada dos
indivíduos nas suas escolhas sem volta, Black Lagoon é um excelente seinen para
os amantes de fuzilaria desenfreada com toques filosóficos.
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