quinta-feira, 27 de outubro de 2016

91 Days - ResenhAnimes


Episódios: 13
Ano: 2016
Estúdio: Shuka
Gêneros: Ação, Drama, Histórico


Sinopse: Durante a Lei Seca, a máfia governou a cidade de Lawless, um porto próspero com as vendas no mercado negro de bebidas alcoólicas. Avilio retorna a Lawless depois de algum tempo afastado, após o assassinato de sua família em uma disputa da máfia. Um dia, Avilio recebe uma carta de um remetente misterioso, levando-o a voltar para Lawless por vingança. Em seguida, ele se infiltra na família Vanetti, os responsáveis pelo assassinato de sua família, e estabelece uma amizade com Nero, o filho do don, para orquestrar sua vingança. Matança traz mais matança e vingança gera mais vingança. Como terminará a história de 91 dias destes homens guiados por um trágico destino?



A logo de 91 Days em sua abertura parece ser uma homenagem muito evidente a ‘um certo filme’ chamado O Poderoso Chefão, que fez ‘certo sucesso’ na década de 70. Assim como o filme, 91 Days é uma obra sobre a máfia e suas relações comerciais no submundo. Mas, mais do que isso, é um anime sobre vingança. A história acompanha Angelo, que teve sua família assassinada em um acerto de contas dos Vanettis, um grupo mafioso local. Retornando anos depois após uma fuga alucinada, ele se infiltra nos Vanettis e começa a manipular internamente as intrigas entre seus membros e com as outras máfias.

91 Days não é uma série de ação alucinante como se supõe ao ler sua sinopse. Seu ritmo é relativamente lento, com vários flashbacks e muitos diálogos expositivos que mostram como funciona a mecânica de interesses dentro de uma facção criminosa. Sua ação é pontuada com tiroteios básicos de um film noir, com as já clássicas submetralhadoras Thompson dos anos 30. Seu enredo é comum de filmes de gangsteres, não se constituindo em um problema por si só.

O ambiente no qual a trama se desenvolve é Lawless, Illinois, típico porto comercial que parece abrigar imigrantes e/ou cidadãos de origem italiana. O nome da cidade me incomodou bastante, pois não combina com a proposta do anime, com seu tema mais adulto e sua roteirização complexa. Com um nome tão ridiculamente óbvio para caracterizar o palco de disputas de famílias mafiosas, Lawless é uma terra sem lei, ou melhor dizendo, que vive sub-repticiamente na lei, com seus subornos policiais, intimidações violentas e políticas compradas. O que a rege é a lei do dinheiro e da bala.

91 Days aponta como a natureza humana pode se tornar obscura pela assimilação precoce de eventos traumáticos não resolvidos. A verdadeira vendetta é aquela em que as emoções são suprimidas ou canalizadas com vistas a causar, em seu incitador, o mesmo dano sentido. Um perigo nessa atitude é a possibilidade quase certa de se criar um círculo sem fim de sofrimento, amargura e perda, mostrado no final da série.  

Avilio, o nome que Angelo adotou após sua suposta morte, é o anti-herói que carrega somente o objetivo da vingança. Não possui o medo que qualquer um teria em ser descoberto, escolhe opções nas quais os nomes em sua lista negra fiquem comprometidos e até envolve seu amigo de infância com a máfia. É representado com muita seriedade para sua idade, mostrando o impacto emocional causado pela perda de sua família de forma sumária. Corteo, um talentoso produtor de cachaça, é sua lembrança de que pode haver outro caminho para além da nefasta trilha do ódio, mas também é sugado pela vingança pessoal de Angelo.

Ele desenvolve uma amizade com um membro de sua lista, Nero Vanetti, criando um dilema na sua vendetta. Nero é uma boa representação, digamos assim, de um gangster com a melhor das intenções: mais focado na paz pelo comércio, respeitando seus colegas de família e o legado do pai. Da família dos Orcos, Fango é retratado como o psicopata necessário deste tipo de ficção. Seus atos são totalmente insanos e imprevisíveis, visando, não raro, interesses para além daqueles de sua família. Um fim que ele ministra a um de seus inimigos no meio da temporada é digno de “lamber os beiços”. Entendedores entenderão.

91 Days é uma série original da TV, não sendo baseada em mangá ou light novel anterior. Sua animação ficou a cargo do estúdio Shuka, responsável por Natsume's Book of Friends e Durarara!!. O estúdio fez um bom trabalho, ambientando com zelo a atmosfera urbana dos primeiros anos do século XX, com quadros geograficamente amplos, transmitindo sentimentos interiorizados do personagem retratado na tela. As cores são predominantemente envelhecidas e acinzentadas, estando de acordo com os tons mais sóbrios do anime.

O trabalho de dublagem foi bem executado, com maneirismos nas vozes e comoções implantadas cirurgicamente em certos momentos, recursos de caracterização relativamente incomuns no mundo dos animes. Destaque para o dublador de Fango, que fez um trabalho magistral na tensão que o personagem consegue imprimir durante seus diálogos. A canção de abertura ficou a cargo de TK from Ling Tosite Sigure, com “Signal”, uma letra aparentemente feita sob medida para 91 Days, tamanha conexão estabelecida com a história de Angelo. O encerramento, “Rain or Shine” por ELISA, é um jazz apoiado no piano e saxofone, perfeitamente executável em algum cabaré da época retratada no anime.

91 Days é um prato cheio para amantes de histórias de gangsters, filmes noir e tiroteios estilosos apoiados num drama nada incomum. Eu o rotularia também como seinen, pois seus temas não atrairão um público acostumado a comédias, ecchis, shonens e escolares que pipocam com mais regularidade durante as temporadas. É sempre bom acompanhar séries que tentam se enveredar na contramão do mercado fácil e garantido que a maior parte dos fãs de animes estão estabelecidos.

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