domingo, 30 de outubro de 2016

Agatha Christie's Great Detectives Poirot and Marple - ResenhAnimes


Episódios: 39
Ano: 2004-2005
Estúdio: OLM
Gêneros: Histórico, Mistério


Sinopse: A jovem Mabel é filha de Raymond West, um escritor de livros de mistério, que deseja uma vida normal para ela. Ao contrário disso, Mabel quer ser uma grande detetive e parte rumo a Londres para se tornar assistente de ninguém menos do que Hercule Poirot, o renomado detetive belga. Ela finalmente ganha a aprovação relutante de seu pai e embarca em uma excitante vida de mistério e suspense – seu pai só exige que, de vez em quando, ela passe algum tempo com sua tia-avó, Jane Marple, na pequena vila de St. Mary Mead.


A escritora inglesa Agatha Christie é detentora do maior recorde de livros vendidos, com uma marca descomunal de mais de 4 bilhões de exemplares ao redor do mundo. Suas histórias estão baseadas no gênero ficção policial, inaugurado por Edgar Allan Poe no século XIX. Com dezenas de adaptações na TV e no cinema, só restava a transposição para o mundo dos animes ser realizada.

A série animada tomou os dois principais detetives dos livros com um novo personagem para fazer a conexão entre eles. Poirot e Marple nunca se encontraram em nenhum livro e isso seria um problema no caso de uma adaptação em que os dois fossem retratados. Para isso existe Mabel West, uma parente de Marple que emprega-se como assistente de Poirot, estabelecendo a consciência da existência de um pelo outro, mas nunca se encontrando pessoalmente. Adaptando grandes sucessos da escritora, como Os crimes ABC, Morte nas Nuvens e 4:50 de Paddington, entre outros, todas as histórias compactaram-se no espaço de 1 a 4 episódios, com Poirot e Marple intercalando suas investigações, facilitadas devidamente por Mabel.

Ficções provenientes de mídia escrita necessitam de certos ajustes para funcionar satisfatoriamente numa produção audiovisual. No caso do gênero policial, o fato de uma imagem valer mais que mil palavras é, negativamente falando, essencial. Deve-se tomar o maior cuidado para não entregar de mão beijada a solução do mistério e, ao mesmo tempo, fornecer os dados necessários para sua (re)solução. Esse problema, felizmente, não ocorre nas histórias de Agatha Christie's Great Detectives Poirot and Marple: é praticamente impossível descobrir quem é o culpado (para quem não conhece de antemão a história, obviamente). Porém, os clímax não chegam nem perto daqueles proporcionados pelos livros, certamente pela diferença entre os formatos. Acrescenta-se a isso uma condução mais leve e quase infantil, claramente voltada a obter classificação livre para todas as idades.

Imputo os maiores pontos negativos da série em seus personagens. A caracterização de Mabel é falha, pois não torna compreensível o motivo de sua rabugice. O desejo de se juntar à equipe de Poirot soou rasa da forma como foi desenvolvida, confirmando ainda mais como sua existência é meramente um recurso de roteiro. Soma-se a isso o fato da sua participação ser totalmente secundária na resolução dos mistérios.

Aliado a Mabel, está o pato Oliver. Sim, um patinho. Ele a acompanha em todos os lugares visitados, encontrando pistas, comunicando-se (muito bem, por sinal) com sua dona e aprontando altas confusões, diria o narrador da sessão da tarde. Pergunto-me por que não um cachorro, um gato, um coelho, ou mesmo um papagaio para cumprir a mesma função. É inimaginável ver um pato seguindo uma adolescente a todos os lugares, inclusive naqueles mais elegantes, em uma época em que as etiquetas sociais seriam um claro empecilho para a circulação do querido Oliver.  

O inspetor Japp aparece aqui de forma mais amigável do que nos livros. É o braço direito de Poirot dentro da Scotland Yard, e Poirot é o seu braço direito fora dela. Ele aparece em todas as histórias, mesmo naquelas em que originalmente não compunha o cast. Esse é o mesmo caso de seu fiel companheiro, Arthur Hastings. Do lado de Marple, é comum a ajuda do inspetor Sharpe e das velhinhas de St. Mary Mead.

Agatha Christie's Great Detectives Poirot and Marple é uma série retratada na Inglaterra das décadas de 20 e 30. Por esse motivo, sua arte é totalmente diferente do usual japonês. Não estão presentes cabelos com cores bizarras ou olhos maiores que boca e nariz juntos. Os designs são sóbrios e genéricos. Exceto os personagens principais, é impossível distinguir de qual história pertence cada um deles. Apesar de se tratarem de crimes como furtos, sequestros e assassinatos com serial killers, nada é graficamente ofensivo, objetivando, como dito anteriormente, classificação etária livre.

O trabalho de dublagem é muito bom. Poirot recebeu uma voz condizente com o perfil traçado nos livros, competindo com a lenda David Suchet em suas já clássicas expressões afrancesadas (oui!). Marple também é interpretada magistralmente pela sua dubladora com voz de vovó do interior. As trilhas sonoras são em geral alegres, com poucas delas gerando a tensão necessária nos momentos cruciais. Abertura e encerramento ficaram por conta de Tatsurou Yamashita. com "Lucky Girl ni Hanataba wo” e “Wasurenaide”, respectivamente. As duas canções são baseadas no pop tune japonês (Kayōkyoku).

Agatha Christie's Great Detectives Poirot and Marple foi uma tentativa válida de adaptação dos vários clássicos da literatura policialesca da dama do crime. Mesmo não sendo habituado a animes com tons mais infantis, e também com os problemas levantados acima em relação aos personagens, admito que foi uma experiência agradabilíssima ver os livros que li na adolescência em formato animado. Vale a pena conferir caso seja fã do gênero.

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