segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Flowers of Evil - ResenhAnimes


Episódios: 13
Ano: 2013
Estúdio: Zexcs
Gêneros: Drama, Psicológico, Romance, Escolar


Sinopse: Kasuga Takao é um garoto que adora ler livros, particularmente “As Flores do Mal” de Baudelaire. Uma garota em sua escola, Saeki Nanako, é sua musa e sua Vênus e ele a admira de longe. Um dia, ele esquece uma cópia de As Flores do Mal na sala de aula e volta sozinho para buscá-la. Na sala de aula, ele encontra não apenas seu livro, mas também o uniforme de ginástica de Saeki. Num impulso louco, ele o rouba.
Agora todo mundo sabe que "algum pervertido" roubou o uniforme de Saeki, e Kasuga está morrendo de vergonha e culpa. Além disso, Nakamura, a menina estranha, assustadora e sem amigos de sua classe, viu-o levar o uniforme. Em vez de revelar que era ele, ela reconhece seu espírito desviante e usa seu segredo para assumir o controle de sua vida. Será possível que Kasuga se aproxime de Saeki, apesar da intromissão de Nakamura e do seu segredo obscuro? O que exatamente Nakamura pretende fazer com ele?




A adolescência é um período de transição, de descoberta externa e interna, de afloramento dos impulsos já de natureza adulta, mas ainda com resquícios permeados da infância inocente. É uma sopa confusa e difusa de sentimentos contraditórios, libertadores e oprimidos. A maturidade sexual e psicológica bate à porta, enquanto a ludicidade ingênua resiste moribunda. Flowers of Evil é um anime competente em aprofundar um assunto que é banalizado na maioria das obras do gênero escolar. Também conhecido como “Aku no Hana”, ele toma emprestado o erotismo e a rebeldia presente no livro de Baudelaire numa aparentemente simples paixão adolescente.

Em toda turma, sempre há aqueles alunos mais introvertidos, que não conseguem se expressar com facilidade, não raro repetindo o que é dito por outros. O fato de serem tímidos não significa que inexiste emoções. Na verdade, costumam carregar um turbilhão de sentimentos reprimidos internamente. E como o comum é a extroversão, acabam por ficarem isolados em seus pensamentos. Desejam, mais do que os outros, serem especiais. Quando paixões estão envolvidas, a ansiedade é ainda maior para botar pra fora o que está corroendo dentro. Uma simples conversa banal com o seu amor não revelado pode se tornar algo aterrorizante. Então, o que fazer? Kasuga, num impulso, roubou para si o uniforme de Saeki, sua amada. Mesmo o odor do treino pode ser agradável.

No entanto, o ato é contrário às convenções sociais e suas regras de conduta, ainda se baseados no amor e/ou paixão. A culpa gerada pode ser enorme até para um adolescente. E se alguém viu? Nesse caso, a pessoa estará nas mãos da testemunha. Porém, se essa testemunha for alguém nada convencional, então o destino do culpado se tornará imprevisível. Isso é o que acontece com Kasuga quando Nakamura diz a ele que conhece seu segredo pervertido. Com essa premissa, Flowers of Evil navega nas águas tortuosas do espírito adolescente.

O tema central da obra é o significado de liberdade. Para alguns, a liberdade é a mera libertinagem desenfreada, representada na personagem Nakamura. Por outro lado, muitos pensam que a liberdade é andar de mãos dadas com a aceitação dos outros através do prosaico, mesmo que inconscientemente, como no caso de Saeki. Kasuga está mais próximo de Saeki no começo do anime, mas se avizinha de Nakamura em seu final. Tudo que é estranho ao padrão também o é para a maioria, e a trajetória de Kasuga poderia ser vista como uma jornada para a decadência. Porém, eu penso que Kasuga se torna paulatinamente mais próximo da sua verdadeira essência, pois ele passa a aceitar o outro lado do seu ser, obscuro e irrefreado.

A caracterização é bem realista para os padrões de mangás/animes. Não há os exageros de caráter tão comuns nesse tipo de mídia. Kasuga é o clássico garoto que ama de forma platônica. Ele muda quando conhece Nakamura. O anime foca inteiramente no seu desenvolvimento, como ele deixará de ser só mais um tijolo no muro para se encontrar com sua adormecida personalidade. Sua evolução é notável e a série conseguiu retratá-la muito bem.

Saeki e Nakamura são pólos opostos que representam, respectivamente, o convencional e o desajustado. Saeki é a típica garota adorada e desejada por todos, com pensamentos triviais e comuns. Por esse motivo, ela já não consegue, num determinado momento, entender as motivações de um Kasuga inebriado com o mundo descomedido de Nakamura. Esta, por sua vez, é orgulhosa em sua autonomia intelectual e cruel no tratar com Kasuga. Porém, esconde suas fraquezas, tornando-se dependente dele como uma rara companhia em sua vida escolar.

Flowers of Evil utiliza uma técnica incomum para os padrões de animação atuais. A rotoscopia é uma precursora das modernas capturas de movimento digitais, utilizando-se de um aparelho para redesenhar uma referência filmada. Confesso que estranhei bastante quando vi o primeiro episódio, mas foi uma decisão acertada se considerar seu enredo também atípico. Muitas pessoas desistiram de assistir o anime por conta da técnica empregada, julgando o produto pela aparência. Considero que colocar os aspectos técnicos acima dos artísticos é um grande equívoco. As tomadas da cidade que Kasuga percorre, sua pequeneza diante das construções, mostram a insignificância da existência humana. As expressões faciais também são mais reais e humanas do que nas animações tradicionais.

As trilhas sonoras são eficientes para causar a tensão necessária em um anime psicológico. A cena de Kasuga e Nakamura sozinhos na sala de aula é memorável em sua execução. As aberturas ficaram por conta de Uchujin, com 4 canções diferentes. Seus vocais estão num tom infantil, com instrumentais com compassos irregulares, orquestrações e pianos ao longo das canções. O encerramento é executado por Asa-Chang & Junray, num ritmo de marcha assustador e com narrações distorcidas estranhíssimas. Certamente, um dos encerramentos mais distintos e peculiarmente certeiros de animes.

Flowers of Evil cospe aquela selvageria marginalizada ao longo de nossos anos de vida como adultos. Romper limites, padrões, etiquetas por meio do frescor juvenil insurgente. E em relação ao romance, talvez o caminho mais reto e fácil não será o que trará a verdadeira redenção. O sinuoso também pode ser o percurso mais próximo para a libertação dos medos e amarras. Com uma linguagem realista que toca na ferida como nenhum outro anime, Flowers of Evil merece a atenção comum a toda grande obra. 

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