Episódios: 13
Ano: 2012
Estúdio: TYO Animations
Gêneros: Histórico, Josei, Romance
Sinopse: UtaKoi realiza uma “interpretação super-liberal” da antologia
Hyakuninishu durante a era Heian no Japão, com 100 poemas românticos de 100
poetas diferentes, como “O Conto de Genji” de Murasaki Shikibu.
O Japão apresenta uma cultura milenar
riquíssima em diversos campos. Um destes, a literatura, é exemplificado com
diversas obras de peso, seja na prosa ou na poesia. Na poesia medieval japonesa,
destaca-se uma compilação de vários tankas
(poemas curtos) de diversos autores realizada por Murasaki Shikibu no século
XIII, utilizada atualmente em uma das modalidades de karuta, um jogo cartas
tradicional dos nipônicos. O anime Chihayafuru colocou em evidência o karuta para
o público ocidental, mas não se aprofundou no terreno histórico e poético das
obras contidas em suas cartas. UtaKoi preenche essa lacuna, trazendo o ambiente
medieval e dolorosamente romântico para contornos modernamente mais assimiláveis.
O anime consiste em apresentar o
contexto romântico e social que gerou alguns dos poemas utilizados na série. O
autor da compilação, com uma aparência mais jovial e divertida, apresenta os
personagens no começo do episódio, um casal apaixonado, e a história se desenrola
com eles até o momento da composição do(s) poema(s). Há um pouco de comédia implantada
nos diálogos, gerando um claro anacronismo com aquela realidade cheia de
códigos e posturas de um Japão isolado. Apesar de vários momentos de comédia,
os finais de cada episódio não terminam da forma que costumeiramente ocorre em
histórias de amor. Não são resoluções que esperamos, mas estão de acordo com a
situação histórica da obra e seus impedimentos.
Diferentemente de Chihayafuru, no
qual, pelo próprio regulamento do karuta, praticamente não ouvimos todo o poema
ser declarado, em UtaKoi os tankas
são os clímax de todos os episódios. Apresentar um poema sem conhecer as razões
do autor pode gerar interpretações peculiares e distintas em cada leitor.
Porém, quando sabemos (e vemos) sua motivação, as palavras ganham uma força
poética ainda maior. Não precisamos pintar nosso sentido nelas; pelo contrário,
elas já estão carregadas com o real sentimento do poeta, e vivenciamos isso de
antemão ao longo do episódio. O momento da declamação é poderoso: poucas
palavras saturadas de uma vida de emoções.
Como dito acima, os contos se
encerram sempre com uma ponta de tristeza. É uma experiência “agridoce”
assistir os personagens brincando e fazendo piadas sobre o amor sentido um pelo
outro para logo depois verem seus sonhos se despedaçarem pelas diferenças de
classes impostas. Eu diria que não são “histórias de amor” mas sim “histórias
de fracasso amoroso”. Contudo, eles são eficientes para criar no espectador a
torcida pelos seus destinos, através de uma caracterização inegavelmente boa.
UtaKoi é um anime melancólico,
pelas razões históricas nas quais seus personagens estão inseridos. Eles são representados
pelos diversos autores que formam a compilação. Todos eles são poetas famosos
do período Heian, membros das classes mais altas da sociedade e alguns oficiais
e plebeus que cortejaram princesas. São altamente regidos pelas etiquetas e
limites sociais de sua época. Destaque para as personagens femininas que,
devido a uma sociedade altamente machista, precisam suportar os ditames de uma
vida enclausurada e tediosa nos palácios reais, encontrando na poesia o único
meio de expressão para suas aspirações latentes.
Assistindo o anime, veio-me à cabeça The Count of Monte Cristo, não pela história que é totalmente diferente,
mas pelo estilo de arte adotado. Em The Count of Monte Cristo, há um recurso em
que são utilizadas “texturas fixas” ao invés de cores sólidas para representar
as roupas: quando ocorre o movimento, as bordas de suas roupas se mexem com os
personagens, mas as texturas permanecem imóveis. Lembra um orifício móvel se
movimentando sobre uma superfície fixa. Alia-se a esse recurso a escolha por
traçados relativamente grossos, incomuns no mundo dos animes, que também me
lembraram obras como Kaiji: Ultimate Survivor e Mahjong Legend Akagi, mas sem
os seus visuais angulosos.
Os temas de abertura e
encerramento contribuem para o “-doce” de agridoce que me referi acima. A
abertura ficou por conta de Ecosystem com “Love Letter wo Nanika?”, uma canção
poppy rock que não achei combinável com um anime essencialmente histórico e um
tanto melancólico tematicamente falando como UtaKoi. O encerramento é pior
ainda, com "Singin' My Lu" por SOUL'd OUT, que pelo visto é alguma boyband japonesa que orgulharia Justin
Timberlake e similares do gênero. Canções que diminuíram a força da proposta do
anime.
UtaKoi é um josei para os românticos
que gostam de relacionamentos de época traduzidos numa abordagem mais
descontraída e anacronicamente moderna. Como obra educativa, é um pontapé
inicial para a familiarização com a literatura antiga japonesa (o período
medieval, em especial) e seu contexto histórico. É sempre importante resgatar
as raízes culturais para as novas gerações e creio que UtaKoi cumpriu bem o seu
papel para um Japão atualmente vanguardista nas novas tecnologias e
comportamentos relacionados a elas.
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